Os sistemas alimentares são responsáveis por uma parcela significativa das emissões de gases de efeito estufa, contribuindo diretamente para o aquecimento global.
No Brasil, 70% das emissões de gases de efeito estufa estão ligadas à produção de alimentos, devido ao elevado uso de fertilizantes, agrotóxicos e à produção de proteínas animais. Saiba mais sobre os impactos negativos dos sistemas alimentares no meio ambiente, os desafios enfrentados e as soluções sustentáveis para mitigar esses efeitos.
Impactos dos sistemas alimentares no meio ambiente
Emissões de gases de efeito estufa
Os sistemas alimentares estão entre as principais atividades humanas que emitem gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono (CO²) e o metano (CH₄). A produção de proteína animal, em particular, é uma grande responsável por essas emissões, uma vez que o metano produzido pelo gado possui um potencial de aquecimento global muito maior que o CO².
Desmatamento e uso da terra
O desmatamento para a expansão da agropecuária é o principal fator responsável pela emissão de gases no Brasil. A conversão de florestas em áreas de cultivo e pastagem não apenas libera carbono armazenado, mas também diminui a capacidade dos ecossistemas de absorver CO², agravando ainda mais o aquecimento global.
Uso intensivo de fertilizantes e agrotóxicos
O uso intensivo de fertilizantes químicos e agrotóxicos na produção de alimentos contribui para a degradação do solo e da água, além de aumentar as emissões de gases de efeito estufa. Em outras palavras, os insumos químicos alteram os ciclos naturais, prejudicando a biodiversidade e a saúde dos ecossistemas.
As mudanças climáticas afetam diretamente os regimes de produção, comprometendo a segurança alimentar e a renda dos produtores. Similarmente, eventos climáticos extremos, como secas e inundações, destroem colheitas e infraestruturas de cultivo, resultando na diminuição dos rendimentos das plantações e no aumento dos custos de produção.
Dessa forma, o desequilíbrio ambiental causa uma redução na produção de alimentos, elevando os preços dos produtos in natura. Isso leva ao aumento do consumo de alimentos mais industrializados e ultraprocessados, o que pode resultar em desnutrição e sobrepeso nas populações afetadas.
Como solucionar o problema dos sistemas alimentares?
Adoção de uma agricultura sustentável
Uma das principais soluções para mitigar os impactos negativos dos sistemas alimentares é a adoção de práticas agrícolas sustentáveis. Isso inclui:
- Conservação do solo e da água: Implementação de práticas que preservem a qualidade do solo e reduzam o consumo de água.
- Redução do consumo de proteínas animais: Diminui a produção de metano e permite o uso da terra para a produção de vegetais.
- Uso de técnicas de cultivo sustentáveis: Como a rotação de culturas, agricultura de precisão e manejo integrado de pragas.
Adesão à agricultura orgânica e urbana
Finalmente, a agricultura urbana tem se destacado como uma solução viável para aumentar a disponibilidade de alimentos frescos e saudáveis nos centros urbanos.
Visto que no ano de 2022 mais de 82% dos brasileiros não tinham o que comer, a agricultura urbana surge como uma possibilidade que, além de fortalecer os mercados locais, auxilia na disponibilidade física e na acessibilidade financeira a alimentos frescos e saudáveis dentro dos centros urbanos.
Ainda, a agricultura urbana é uma ferramenta importante na redução de desperdícios e na conservação de áreas verdes nas cidades, espaços fundamentais quando pensamos no controle dos efeitos da crise climática.
Avanços e compromissos globais
Na COP 28, realizada no final de 2023, 159 países assinaram a Declaração sobre Agricultura Sustentável, Sistemas Alimentares Resilientes e Crise Climática. Entre os compromissos assumidos estão:
- Garantir a segurança alimentar e nutricional por meio de sistemas de proteção social e programas de alimentação nas escolas.
- Apoiar trabalhadores do setor agrícola com melhores condições de trabalho e remuneração justa.
- Ampliar o acesso a mecanismos de financiamento para sistemas alimentares, incluindo recursos para pequenos produtores.
Durante a COP 28, a FAO lançou um roteiro global para orientar a transformação dos sistemas alimentares mundiais, com o objetivo de:
- Manter o aumento da temperatura global abaixo de 1,5°C, conforme o limite estabelecido pela ciência para evitar impactos climáticos mais severos.
- Combater a fome através do aumento da produção agrícola sustentável.
- Mudança nas dietas: Reduzir o consumo de carne e substituí-la por alimentos à base de plantas.
- Redução do desperdício de alimentos: Implementar medidas para minimizar o desperdício em toda a cadeia produtiva.
De forma geral, os sistemas alimentares desempenham um papel importante tanto na emissão de gases de efeito estufa quanto na oferta de soluções para a crise climática. A adoção de práticas agrícolas sustentáveis, a promoção da agricultura urbana e a implementação de políticas globais comprometidas podemser grande aliadas para reduzir o impacto ambiental e garantir a segurança alimentar.
A transformação dos sistemas alimentares, guiada por avanços tecnológicos e pelo engajamento social, é fundamental para construir um futuro mais sustentável e resiliente frente às mudanças climáticas.